quinta-feira, 7 de abril de 2011

Premissas e regras da mentira altruísta

Diz-se que mentir é feio e quase todo o mundo defende que não mente e afirmam que a coisa que mais detestam nesta vida é a mentira. Então porque diabos toda a gente mente?!
Bem, as razões são as mais variadas… Desde o mentiroso compulsivo que não consegue evitar e chega a acreditar que o que diz é verdade, até àquele que mente simplesmente para não se aborrecer, a mentira tem provocado e gerido muito stress ao longo dos tempos.
Ao longo dos tempos a mentira tem sido também, sempre, apontada como algo nefasto, egoísta e cruel… mesmo as ditas mentiras “piedosas”.
Será assim a mentira algo de tão ruim? Não será boa em circunstância alguma? Não poderá em determinada situação ser até altruísta?
De certo prisma a mentira pode até ser um grande sacrifício para o mentiroso de forma a proteger o presumível lesado e é aqui que a mentira se torna altruísta.
Imagine-se um universo de duas pessoas (pessoa A e B) e que nesse universo o objecto X provoca imensa dor em B, porque não A dizer a B que X é Y?! Muitos dirão que vale tudo menos a mentira, que a verdade é sempre preferível á mentira por mais que doa, que preferem lidar com a dor da verdade que lidar com a mentira sem conhecer a real verdade… O fantasma de não saber é sempre pior que ver e doer…
Agora imagine que para A, dizer Y é bem mais doloroso para si mesmo que expor o verdadeiro X a B. Não é altruísta? Sabendo A que X magoa B e Y magoando A, A prefere mostrar Y a B, sofrer o que B sofreria… Não é uma mentira altruísta?!
E porque diabos, A mentiria a B? Porque seria tão altruísta assim? Por amor talvez, parece um bom motivo não? Amor parece de facto um bom motivo para A sofrer no lugar de B através de uma mentira.
Não é altruísta?!
Vamos ver então. A e B amam-se verdadeiramente. X magoa B e com o sofrimento de B provocado por X, A sofre também sem que nada possa fazer. Se A sofre por B sofrer por X, B começa, porque ama, a sofrer pelo sofrimento de A. Desta forma o sofrimento de B duplica tal como a sua sensação de impotência o que resultará num ciclo de sofrimento com propriedades cumulativas entre A e B.
Neste caso a verdade de X conduz apenas a um futuro de dor impossível de ser interrompido.
Se A detém o poder da verdade de X, A tem ou não tem a responsabilidade moral e humana de impedir o ciclo de dor provocado por X no universo de A e B?!
Assim, A não só deve impedir o ciclo horrível provocado por X como ainda tem que carregar o fardo pesado que a verdade de X implica e proteger B, seu amor! É sacrifício por amor! Assim A apresenta Y em vez de X a B, e sofre sozinho. Não há ciclo, não há efeito cascata, não é cumulativo, é impossível que tal dor adquira propriedades exponenciais. A dor ficará contida num foco apenas, apenas em A e A sacrifica-se em prol da felicidade de B, porque ama B e quer que B sorria, na esperança de poder um dia sorrir de novo também, com B.
Poderá B, algum dia acusar A de esconder X?! Porque?!
Atenção, não se confunda mentira altruísta com mentira piedosa. A mentira piedosa não exige o sacrifício da mentira altruísta, é gerada apenas por pena ao passo que a mentira altruísta visa proteger algo importante que nos é querido, que estimamos e queremos preservar eternamente com a beleza e frescura de sempre, que temos medo de perder, que amamos.
È confuso?! A mentira é assim… mas tem a sua importância, tão grande ou maior que a verdade.
É fácil mentir? Deve ser… A menos que seja altruísta… essa corrói-nos por dentro e devagarinho com requintes de sadismo.
Se gosto da mentira? É a coisa que mais detesto na vida!