sábado, 19 de março de 2011

Infidelidade natural repugnante

Partilho aqui uma ideia global, globalmente inaceitável, a infidelidade.
Quantos de nós humanos somos infiéis hoje em dia? Quantos queremos ser fiéis?
Bem a resposta é rápida e sucinta para ambas as perguntas... TODOS
Calma...
Nas relações actuais e provavelmente desde o nascimento de Cristo que é assim que se passa, se não é pela carne é, pelas palavras da Bíblia Sagrada, em pensamento, e sim, todos querem respeitar os textos antigos, mesmo aqueles que dizem ser contra, não seguir, não acreditar.
Quer queiramos quer não a Igreja é uma instituição antiga enraizada a nível cultural à qual até os reis que nos governaram foram obrigados a fazer vénia ao lado dos miseráveis camponeses.
Hoje em dia pouca ou nenhuma importância tem para muitos, mas a verdade é que já teve para o trisavô, avô, pai e por esta linha nos chegaram muitos dos seus ensinamentos, pois antes da igreja o Homem era animal e apenas através desta se dignificou como ser superior entre os bichos. Não faltam missões registadas nos livros de história a explicar como a igreja chegava perto de animais além mar e os ensinava a ser homens.
E o que ensinava a igreja no meio de tantas coisas? Ensinava que o casamento é até que a morte separe os seus intervenientes. Quer queiram quer não, a humanidade foi aculturada por esta ideia.
É por isso que todo o mundo quer ser fiel, porque é o correcto. A ideia de que devemos amar uma e só uma pessoa e dedicar-lhe todas as nossas pulsões animais está tão enraizada na nossa sociedade que arriscaria mesmo a dizer que se entranhou no código genético da civilização ao longo dos tempos. Não se enraizou no entanto no código genético do Homem.
Não meus caros, no nosso código genético continua imprimido que o macho deve procriar com o maior número de fêmeas em prol da prosperidade da espécie e que as fêmeas devem procurar o emissor genético mais forte e viável para essa continuidade.
É aqui que surgem os problemas.
Surgem problemas porque o que a sociedade nos ensina, logo em pequeninos nos contos de amor da Disney, choca com o mecanismo que impulsionou a espécie para os números astronómicos de sobrepovoamento do planeta actual.
O que fazer quando insistentemente temos vontade de nos envolver com outras pessoas quando estamos comprometidos com uma há tanto tempo? Porque sermos acusados se seguirmos os nossos impulsos animais? 
Alegar a capacidade de Razão da espécie pode parecer um grande trunfo, mas é na verdade uma visão limitada da questão. O facto é que a bagagem de instintos pré-históricos não pode ser encarada com leviandade. A relação com outros indivíduos é uma necessidade tão básica e real como beber água ou procurar abrigo, de outra forma não a sentiria-mos com tanta insistência, experimentando de seguida por ausência de supressão, tão grandes desconfortos e mal estar. 
E este desconforto e mal estar guia invariavelmente a uma grande questão que bate na cabeça de todos e todas quando os relacionamentos sérios se acumulam de responsabilidades que é: "Sexo só com ele(a) para sempre?". É nesta altura que as relações muitas vezes se tornam pesadas e sufocantes, que surgem dúvidas e os rompimentos e divórcios (cada vez mais crescentes) tomam lugar na vida das pessoas, tornando o namoro e o casamento compromissos cada vez mais efémeros na vida e crença da sociedade actual.
Poucos serão aqueles(as) que dizem "não quero envolver-me sexualmente, apenas contigo até ao fim dos meus dias, por isso quero terminar tudo", não! A maioria tem que racionalizar essa questão tão primitiva de modo a que possa sair o mais imaculado possível do compromisso, o menos animalesco aos olhos dos outros, o mais humano para o mundo, e surgem então problemas que até ali eram defeitos pelos quais nos tinha-mos inicialmente apaixonado a par das virtudes do nosso companheiro(a), coisas tão simples como comer de boca aberta ou falar alto. Tantos pequenos defeitos apaixonantes agora juntam-se numa compilação tremenda para formar ideias sólidas como "não és a pessoa certa para mim" . Aqui se sublima o instinto animal que milhões de vezes vem despoletar milhares de dúvidas acerca da nossa vontade.
No entanto terminar uma relação para noutra mais duradoura ou mesmo pontual, saciar essa necessidade, não é tão fácil assim, apesar de parecer o mais correcto.
Se por um lado o impulso sexual dirigido a outra pessoa é carga genética ancestral de peso, o amor é constructo racional actual e o actual pesa conscientemente mais que o ancestral. Neste ponto o Animal e o Homem chocam e agridem-se.
Como saciar o animal permanecendo homem? Como envolvermo-nos com uma pessoa quando amamos outra?! 
Sim, não se iludam meus caros, ter vontade de estar com outra pessoa não implica ausência de amor por outra. Julgar que, se determinado individuo se quer envolver com uma pessoa estando com outra então não ama aquela com quem está, é um erro de justiça e essa sim uma ideia primitiva irracional.
Não desesperem, no entanto há forma de saciar Homem e Animal... Como?! Traindo! Amamos com voracidade uma pessoa e acalmamos a fera, friamente num curto espaço de tempo, com outra.
Parece cruel não é? Mas para muitos(as) ou se age assim ou se enlouquece ou se conformam na relação perdendo mais de metade da identidade animal e, por larga consequência, humana para o outro.
Não se deixem enganar, não tentem racionalizar. Esta questão está no centro de 99% dos problemas relacionais íntimos. A não aceitação desta premissa é indicador de uma grande absorção pela velha cultura sagrada.
É desta forma que a infidelidade se prova natural repugnante, natural para o Animal, repugnante para o Homem.
Será preciso passar ainda muito tempo até que a traição deixe de ter uma conotação negativa e a infidelidade passe a ser encarada com naturalidade NATURAL, até lá, a maioria continuará a trair na carne ou em pensamento, magoando e amando, ao mesmo tempo, o seu parceiro(a) sem que consiga escapar ao Homem e ao Animal dentro de si, mas a ordem natural da evolução da espécie quer recompor-se. Fiquem atentos...



2 comentários:

  1. Se a sociedade não fosse viciada em hipocrisia e se o Homem não definhasse por dentro com medo do julgamento do seu semelhante a Infidelidade seria Institucionalizada...

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  2. Amar é ser-se e sentir-se completo ao lado de alguém... Esta será apenas uma definição redutora da imensidão do sentimento que me assola quando quem amo está por perto.

    Quem eu amo, ama-me... Mas não basta.
    Quem eu amo ama outro alguém, igualmente importante.
    Depois da dor, depois da incompreensão, depois da incapacidade, algo novo surge: a aceitação.
    A força motriz? O meu amor, a minha vontade que seja feliz, completo, que sorria, que triunfe, que ganhe asas e voe em direcção do destido que lhe pertence.
    Não aquele a que se resigna neste momento, não existindo, como uma sombra do que já foi.

    Para que fosse feliz, daria a minha felicidade, a minha vida, a minha alma... Para que fosse feliz morreria se assim apaziguasse a sua dor, o seu desespero.

    Convicta de que estaria a fazer o melhor, lutei... a convicção enfreaqueceu perante a sua dor, perante a impotencia de ser feliz, face à minha luta.
    Convicta de que estaria desta vez correcta, afastei-me... Morria em silêncio, definhava por dentro, consumia todo o meu ser na angústia permanente da ausência, ainda assim, mantinha-me forte na minha convicção... Mais uma vez errei... Amo-te muito, preciso de ti, penso em ti sempre, não consigo aguentar a tua ausência, essas eram as suas palavras.
    Dilacerada pela dor do seu sofrimento, pela incapacidade de fazer mais e melhor acedi a "voltar", a pôr-me a jeito... A contentar-me com a leviandade das mensagens e dos telefonemas, quando comparados com a minha dor, com o meu amor, com a minha vontade...

    Mais uma vez estava numa enruzilhada, entre o nada absoluto e a hipocrisia.
    Esperei...Desesperei...

    Decidi novamente lutar, decidi que talvez houvesse para mim um lugar junto da pessoa que amo... Estava errada?! Fui acusada, julgada e condenada... Senti-me mal, senti que, de facto, nao tinha o direito de lutar porque a minha luta não era compatível com a sua felicidade.
    O outro alguém não compreende a minha luta, não aceita que uma metade, será para sempre metade e nunca um todo na ausencia da parte que a completa.

    Por medo, o meu amor, abdica da minha metade para agarrar a outra, por medo, magoa-me uma vez mais, dilacera-me engana e mente...

    Desta vez mais que impotente estou ausente e longe de qualquer tipo de contacto. Não há quem apazigue a minha dor, não há quem me console, não há quem me compreenda, ou sequer aceite o meu sentimento!

    A infidelidade não passa apenas por trair os ideais instituidos pela sociedade viciada em hipocrisias e fachadas "coloridas", passa sim, e esta muito mais grave, por trairmos quem somos e o que sentimos. Por sermos incapazes de, ser completos apenas com metade, mas não ter força para alcançar e lutar pelas duas que nos completam.

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